quinta-feira, 19 de maio de 2016

Aulinha de estatística na Câmara dos Deputados



Circulando nas redes sociais, só pra tentar ficar por dentro do que está rolando em Brasília, dei de cara com esse vídeo de Ricardo Boeachat. Confesso que às vezes amo o que ele diz e às vezes nem tanto, mas o vídeo de hoje dá uma bela aula de estatística.

Explicando melhor: por que será que o interino escolheu André Moura como líder do governo na Câmara? A pergunta que não quer calar é: "Não tinha nenhum deputado que fosse melhorzinho"?

No vídeo (assista para saber do que estou falando), Boechat se pergunta se é apenas coincidência que um deputado, da tropa de choque de Cunha, investigado por homicídio, indiciado na lava jato e réu em três processos no Supremo foi o escolhido.

Coincidência? Com um pouquinho de estatística, posso sugerir que não.

Boeachat tenta "aliviar" Moura dizendo que ok, metade da Câmara é da tropa de choque de Cunha. Eu sou um pouco mais pessimista e acho que pelo menos 3/4 da Câmara fazem parte dessa tropa, mas você pode fazer as contas com as duas possibilidades.

Ele continua dizendo que o deputado é só suspeito de homicídio, ok, ainda não foi condenado, mas Boechat pergunta ao cidadão, quantos brasileiros são suspeitos de homicídio? Indo só para o universo da Câmara, quantos deputados são suspeitos de um crime como esse? Como não tenho os dados, chutei 1% (é muito, se você quiser pode baixar essa frequência, não tem problema).

O próximo item: Moura é investigado na Lava-Jato. Mas "Boechat, larga de ser chato, a Lava-Jato foi criada por Moro para perseguir os políticos, a grande maioria está envolvida". Pois bem, coloquemos a grande maioria, pode ser 4/5 dos deputados? Mais uma vez, se você quiser colocar mais ou menos, fique à vontade...

Tem mais, Moura é réu em três processos no Supremo. Ok de novo, só é réu, não foi condenado. Mas pense bem, quantos deputados são réus em um processo no Supremo? Sendo bem exagerada, poderia pensar em 1/3 dos deputados réus em um processo. Com isso, a probabilidade de ser réu no supremo tem que ser elevada ao cubo (probabilidade de ser réu em um processo, vezes a probabilidade de ser réu em um segundo, vezes a probabilidade de ser réu em um terceiro).

Vamos para o fechamento da aula de estatística... Qual a probabilidade de ser coincidência que Moura seja da tropa de Cunha, indiciado por homicídio, citado na Lava-Jato e réu em três processos no supremo?


P(coincidência) = 0,75 x 0,01 x 0,8 x 0,33 x 0,33 x 0,33 = 0,0002

Isso significa que apenas 1 em cada 4.500 deputados exibiriam, sendo inocente, toda essa série de atributos juntos. Como a Câmara não tem tal número de Deputados (só tem 513 como aprendi da fatídica votação do dia 17 de abril), fica a impressão de que Moura foi escolhido apesar disso tudo por falta de opção por parte do interino (ninguém com um pouco mais de credibilidade aceitaria?) ou pior, que foi escolhido por causa disso tudo (o que me parece mais provável, já que acho que muitos deputados ficariam felizes com o cargo).

Deixo com você a segunda parte da aula de estatística: qual a probabilidade de um deputado com tantas suspeitas nas costas ser alguém digno de confiança? Mais importante ainda, digno da confiança de quem? Pense nisso!

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